sexta-feira, 23 de abril de 2010

Os paradigmas da educação e a descarga

Os paradigmas da educação e a descarga



Existem certos paradigmas explicitados por meio de frases e conceitos que são desastrosos para a educação. Quando definimos e conceituamos algo de forma dogmática, por tabela, limitamos aquilo que foi definido. Retiramos do alvo da definição a liberdade de ser outra coisa. Algumas frases que observamos ao longo de nosso trabalho – em escolas públicas ou privadas - são prova desses paradigmas.
No meio escolar, é comum afirmar-se, já no início do ano letivo, que: “Tal classe é muito ruim”. Os professores, de pronto, passam a considerar que os alunos daquela classe não são bons. E excluem a possibilidade daquela classe ser boa. Pra que gastar sal com carne podre?
Ao embarcar no (pré) conceito de que uma classe é ruim, o professor retira de sua ação pedagógica a possibilidade de interferência positiva para o ensino- aprendizagem e, naturalmente, compromete seu trabalho. O docente olha para os alunos – ruins – como um monte de gente sem valor. Não se trata do Rodrigo, da Bruna, do Pedro, da Letícia ou de alguém com nome e cara. Trata-se, de imediato, de uma classe como uma coisa uniforme e ... ruim. Os nomes no diário de classe são apenas um detalhe. Repeti a palavra ruim várias vezes de propósito.
Outra frase – comum nas escolas - é uma das maiores pérolas da educação: O professor Fulano dá aulas para quem sabe a matéria. Eu sempre achei que o professor era necessário para quem não sabe e precisa saber alguma coisa. Essa é a grande questão da educação. O magistério existe para isso – ensinar a quem não sabe. O desafio é e sempre foi esse. A transferência do saber e a conseqüente mudança de comportamento e de atitude diante da vida são feitas a partir da educação. Agora, quando o indivíduo já sabe, pra que professor? A incompetência começa por aí e termina em enorme desastre na educação. Infelizmente, muitos consideram a frase como um elogio ao professor – que dá aulas para quem sabe, quando, na verdade, é uma baita crítica.
A escola privada é melhor que a escola pública! Quanta bobagem. A sociedade precisa parar de fazer essa comparação boba. Existe Escola boa e Escola que não é boa. Os pais e a comunidade escolar devem possuir meios para aferir se a Escola de seus filhos é boa. Observem o ENEM, por exemplo. Existem Escolas ótimas, privadas e públicas.

_ “Prefiro pecar pelo excesso a pecar pela omissão”. Ouvi essa afirmativa de um professor que justificava o volume excessivo de conteúdo dado para os alunos de certa classe. Matutei com minha cabeça sobre essa frase de um ‘pecador’. Ora, o excesso é tão pernicioso quanto a falta. A diferença entre o remédio e o veneno não é a dose? Quando comecei a trabalhar no magistério, achava que meus alunos deveriam ser apaixonados pela História como eu sou. Na minha ingenuidade, eu acreditava que meus alunos completariam o curso – Ensino Médio – como “Historiadores”. A experiência me mostrou que não é bem assim. O ensino da História deveria ser uma ferramenta para o aluno crescer como individuo e não uma imposição tirânica de um professor que prefere errar pelo excesso. Finalmente aprendi que eu poderia contribuir para que meu aluno pudesse compreender um pouco melhor sua própria história, sem ser apaixonado pela História.

Certa feita, um aluno de classe média me perguntou o porquê do estudo sobre o marxismo, já que ele e seus colegas não eram proletários e, portanto, não necessitavam daquele aprendizado que, a princípio, cheirava a proselitismo. Gostei da pergunta e percebi, diante da rejeição ideológica do aluno, que ele havia compreendido o tema. Ao dizer que não fazia parte do proletariado, o aluno assumiu consciência de sua posição social e percebeu a questão da luta de classes tratada por Marx. De uma forma curiosa, o aluno entendeu o marxismo e a sua reação mostrou seu posicionamento na sociedade e no contexto no qual vivia. Isso é educação. O que meu aluno fez com o marxismo eu não sei. Mas sei que ele compreendeu a lição e torço para que ele pense um pouco mais no outro, proletário ou não.

Mudando radicalmente de assunto, os ambientalistas que me perdoem, mas continuarei dando descarga em minha privada. Digo isso porque li há pouco que uma personalidade defensora da natureza e radical na preservação do meio ambiente, afirmava que na sua casa, todos estavam proibidos de acionar a descarga quando fossem urinar. Se for “amarelo”, dizia o distinto, nada de descarga.
Sou do tempo em que a descarga era acionada imediatamente após o uso da privada, sendo o dejeto amarelo, marrom, verde ou de qualquer cor. Não tenho paciência com radicalismos de qualquer espécie, mas nesse ponto, sou radical. Creio que há água suficiente para a descarga. Posso diminuir o tempo no banho, evitar lavar o carro. Mas sou irredutível quanto à descarga. A descarga é sagrada, como as vacas na Índia. Dou descarga e ponto final.
Aciono a descarga, principalmente, quando vejo, flutuando na água da privada, as expressões:
“Dar aula para quem sabe” - “Prefiro pecar pelo excesso a pecar pela omissão” - “Tal classe é muito ruim” – Escola privada é melhor do que Escola Pública.

Newton Luiz de Miranda

Gabarito 2º simulado especial - 2010

1 - e 2 - a 3 - e 4 - (06) 5 - d 6 - c 7 - b 8 - d 9 - b 10 - a 11 - b 12 - c 13 - c 14 - c 15 - d 16 - e 17 - b 18 - a 19 - c 20 - a

Gasbarito 1º simulado especial - 2010

1 - c 2 - b 3 - c 4 - b 5 - a 6 - d 7 - b 8 - a 9 - d 10 - a 11 - a 12 - b 13 - d 14 - b 15 - a 16 - c