quarta-feira, 1 de abril de 2009

Comentário sobre questão da FUVEST - ESCRAVIDÃO

31/03/2009 - 16:13
Fuvest errou questão sobre trabalho escravo
Essa eu só fiquei sabendo agora e agradeço ao leitor Tiago Rangel pelo toque. O vestibular deste ano da Fuvest, um dos mais importante do país, porta de entrada da Universidade de São Paulo, errou na questão número 06 da primeira fase. Segue o enunciado:
O Brasil ainda não conseguiu extinguir o trabalho em condições de escravidão, pois ainda existem muitos trabalhadores nessa situação. Com relação a tal modalidade de exploração do ser humano, analise as afirmações abaixo.
I. As relações entre os trabalhadores e seus empregadores marcam-se pela informalidade e pelas crescentes dívidas feitas pelos trabalhadores nos armazéns dos empregadores, aumentando a dependência financeira para com eles.
II. Geralmente, os trabalhadores são atraídos de regiões distantes do local de trabalho, com a promessa de bons salários, mas as situações de trabalho envolvem condições insalubres e extenuantes.
III. A persistência do trabalho escravo ou semi-escravo no Brasil, não obstante a legislação que o proíbe, explica se pela intensa competitividade do mercado globalizado.
Está correto o que se afirma em:a) I, somente.b) II, somente.c) I e II, somente.d) II e III, somente.e) I, II e III.
O vestibular considera como certa a alternativa “c”.
Contudo, se ela fosse aplicada a pesquisadores que estudam o trabalho escravo contemporâneo, seja na própria Universidade de São Paulo, seja na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ou em outros centros de excelência em todo o país, a alternativa “e” seria a escolhida.
E não só na academia. Consultei membros da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), da qual faço parte, – instância federal que reúne instituições que atuam no combate a esse crime e conta com a presença de nove ministérios, além de Ministério Público, Justiça, Organização Internacional do Trabalho, associações de classe e entidades não-governamentais, como a Comissão Pastoral da Terra – e eles também marcariam “e”.
Ao longo dos últimos anos, também já ouvi de membros do alto escalão do Ministério das Relações Exteriores, ou seja, quem cuida das relações comerciais internacionais, a explicação de que a competição global violenta também contribui para o surgimento de trabalho escravo.
Para início de conversa, o trabalho escravo contemporâneo no Brasil é diferente do trabalho escravo colonial e imperial, estão inseridos em modos de produção diferentes. Isso não sou apenas eu quem digo, mas qualquer pesquisador sobre o tema no Brasil.
É claro que a questão do trabalho escravo contemporâneo não se justifica apenas pela busca por competitividade, mas ela é um elemento importante que está inserido nesse processo. Como o enunciando da alternativa não restringe (algo como “explica-se exclusivamente”), possibilita ao candidato escolhê-la como uma possibilidade explicativa.
Se trabalho escravo não é a busca por lucro fácil, dentro de um contexto da competitividade de um empreendimento, ele é o que? Uma prática de gente malvada guiada por puro sadismo?
Trabalho escravo é sustentado pelo tripé impunidade (de quem usa escravos), pobreza (que expulsa trabalhadores e os força a aceitar propostas de emprego bizarras) e ganância (em um cenário de intensa competitividade nacional e internacional, o produtor rebaixa o custo trabalho para poder alcançar um lucro igual ou maior que o seu competidor). Separadamente, nenhum deles explica esse fenômeno no país.
A incidência do problema está concentrada nas regiões de expansão agropecuária da Amazônia (dos Estados de Rondônia até o Maranhão, coincidindo com o Arco do Desflorestamento, onde a floresta perde espaço para a agropecuária) e do Cerrado (principalmente nos Estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins). Contudo, há casos confirmados em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre outras regiões em que o capital e instituições estatais já estão estabelecidas, o que demonstra que a origem desse fenômeno não está vinculada ao locus da fronteira agrícola, mas a outro elemento que perpassa realidades sociais diferentes.
Os relatórios de fiscalização do Ministério do Trabalho mostram que os empregadores envolvidos nesse tipo de exploração não são pequenos sitiantes isolados economicamente do restante da sociedade, mas na maioria das vezes, grandes proprietários rurais, muitos deles produzindo com tecnologia de ponta. Pesquisas da ONG Repórter Brasil apontam que esses produtores fornecem commodities para grandes indústrias e ao comércio nacional e internacional. Portanto, estão sob a influência direta da economia de mercado e dela dependentes.
A utilização de trabalho escravo contemporâneo no Brasil não é resquício de práticas arcaicas que sobreviveram provisoriamente ao capitalismo, mas sim um instrumento utilizado pelo próprio capitalismo para facilitar a acumulação em seu processo de expansão ou modernização. Esse mecanismo garante competitividade a produtores rurais de regiões e situações de expansão agrícola que optam por uma via ilegal. Dessa forma, fazem concorrência desleal com os outros empregadores que agem dentro da lei.O Anglo Vestibulares, um dos cursinhos mais conhecidos do país, resolveu da seguinte forma a questão:
“A existência de trabalho escravo no Brasil atual se explica pela extensão de seu território, onde, em pontos isolados, persistem relações arcaicas entre empregadores e trabalhadores. Essas regiões, marginalizadas da modernidade, são de difícil fiscalização, o que contribui para que se mantenha tal aberração. Isso não se relaciona à globalização, marcada pela modernização e a competitividade, o que exclui a afirmação III.”
Se seguirmos por essa resposta, teremos uma situação em que todos os crimes acontecem apenas por falta de policiamento. O que é uma simplificação tosca e repressiva da realidade. Ou, na pior das hipóteses, uma forma de leitura do mundo carregada de uma visão política que o vestibular considera como a correta. Se for assim, a Fuvest passa a agir como um filtro ideológico e não apenas técnico, deixando de fora aqueles que não concordam com esse modelo do mundo. Um modelo raso, diga-se de passagem.
Na minha opinião, essa questão deveria ter sido cancelada. Aliás, se eu fosse um candidato que saiu prejudicado por conta dessa questão, iria reclamar os meus direitos.
Leonardo Sakamoto é jornalista e Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu a guerra pela independência em Timor Leste e a guerra civil angolana. Foi professor do curso de jornalismo da ECA-USP.

1º simulado especial 2009

1º - SIMULADO ESPECIAL – 2009
HISTÓRIA
PROF. NEWTON


01 - No Século XIII, os barões ingleses, contando com o apoio de alguns mercadores e religiosos, sublevaram-se contra as pesadas taxas e outros abusos. O rei João Sem Terra acabou aceitando as exigências dos vassalos sublevados e assinou a Magna Carta. Pode-se afirmar que o documento apresenta importante legado do Mundo Medieval porque
a) reafirmava o princípio do poder ilimitado dos monarcas para fixar novos tributos.
b) freou as lutas entre os cavaleiros e instituiu o Parlamento, subdividido em duas Câmaras.
c) assegurava antigas garantias a uma minoria privilegiada, mas veiculava princípios de liberdade política.
d) limitou as ambições políticas dos papas, mesmo tratando-se de um contrato feudal.
e) proclamava os direitos e as liberdades do homem do povo, através de 63 artigos.

02 - As cidades medievais:
a) não diferiam das cidades greco-romanas, uma vez que ambas eram, em primeiro lugar, centros político-administrativos e local de residência das classes proprietárias rurais e, secundariamente, também centro de comércio e manufatura.
b) não diferiam das cidades da época moderna, uma vez que ambas, além de serem cercadas por grossas muralhas, eram, ao mesmo tempo, centros de comércio e manufatura e de poder, isto é, politicamente autônomas.
c) diferiam das cidades de todas as épocas e lugares, pois o que se definia era, precisamente, o fato de serem espaços fortificados, construídos para abrigarem a população rural durante as guerras feudais.
d) diferentemente de suas antecessoras greco-romanas eram principalmente centro de comércio e manufatura e, diferentemente de suas sucessoras modernas, eram independentes politicamente, dominando um entorno rural que lhes garantia o abastecimento.
e) eram separadas da economia feudal, pois sendo esta incapaz de gerar qualquer excedente de produção, obrigava-as a importar alimentos e a exportar manufaturas fora do mundo feudal, daí a importância estratégica do comércio na Idade Média.

03 - "Neste tempo revoltaram-se os camponeses em Beauvoisin. Entre eles estava um homem muito sabedor e bem-falante, de bela figura e forma chamado Guilherme Carlos. Os camponeses fizeram-no seu chefe e estes lhes dizia que se mantivessem unidos. E quando os camponeses se viram em grande número, perseguiram e mataram os homens nobres. Inclusive muitas mulheres e crianças nobres, pelo que Guilherme Carlos lhes disse muitas vezes que se excediam demasiadamente; mas nem por isso deixaram de o fazer."
(Texto adaptado de Crônica dos quatros primeiros Valois (1327-1392) in ANTOLOGIA DE TEXTOS HISTÓRICOS MEDIEVAIS.)
Sobre as rebeliões acima indicadas, podemos afirmar que:

I – Foram denominadas de jacquerie e fizeram parte da Retração Geral que atingiu a Europa no século XIV.
II – Acabaram com os privilégios da nobreza e enterraram o feudalismo que, na França, desapareceu no final do século XIV.
III – Estão inseridas num contexto de emergência da industrialização da Europa provocada pela acumulação primitiva de capitais.

Qual (is) a (s) afirmativa (s) correta (s)?

A – I, II e III
B - Somente I
C – I e III
D – Somente II

03 - "A idéia de 'bem comum', de 'utilidade comum', tão importante, por exemplo, em Aristóteles, foi aplicada à atividade dos mercadores pelos autores cristãos. Ligando esta idéia à do trabalho, São Tomás de Aquino (1225-1274) declarou: 'se alguém se entrega ao comércio tendo em vista a utilidade pública, se se quer que as coisas necessárias à existência não faltem ao reino, então o lucro, em lugar de ser visto como um fim, é somente reclamado como remuneração do trabalho'."
(J. Le Goff, MERCADORES E BANQUEIROS NA IDADE MÉDIA)

A partir do texto acima, podemos concluir que:

A – A Igreja Romana, no final da Idade Média, rejeitava toda e qualquer forma de lucro.
B – A religião cristã romana estabelecia que o lucro era uma forma terrível de pecado.
C – O revigoramento comercial e urbano alterou a postura da Igreja acerca do lucro.
D – S. Tomas de Aquino, na Baixa Idade Média, considerava a usura um pecado capital.

04 - "A data do ano mil e a célebre frase do monge Raul Glaber sobre a veste branca da Igreja com a qual se enfeita a cristandade assumem para muitos o valor de um símbolo: o de um reflorescimento após tempos difíceis e conturbados. De fato, as primeiras décadas do século XI vêem a afirmação de um amplo movimento, desigual e mais ou menos precoce certamente, que afeta todas as regiões do Ocidente e lhes dá, às custas de esforços obstinados empreendidos, em seguida, durante séculos, um novo equilíbrio econômico e humano."
(Jacques Heers. HISTÓRIA MEDIEVAL. Difel)
Caracterizam o reflorescimento que marcou a Europa a partir do século XI, EXCETO:
A – o surgimento de novas classes, entre as quais a burguesia.
B – o desaparecimento das corporações de ofício.
C – a formação de rotas comerciais terrestres e marítimas.
D – a expansão monetária e o desenvolvimento de técnicas agrícolas.
05 - "Em 1128, após o incêndio da cidade de Deutz o abade Rupert, teólogo apegado às tradições, logo viu nesse fato a cólera de Deus, castigando o local que se tornara centro de trocas e antro de infames mercadores e artífices."
(texto adaptado de J. Le Goff, A CIVILIZAÇÃO DO OCIDENTE MEDIEVAL)
O texto permite concluir que:
A – diversas cidades medievais, a partir da Baixa Idade Média, tornaram-se centros comerciais de grande importância.
B – o clero romano, em sua maioria, compactuava com os ideais dos mercadores e da burguesia, objetivando o aumento do dízimo.
C – o início da Baixa Idade Média foi caracterizada pela emergência de um espírito laico, antroprocêntrico e humanista.
D – o homem medieval estava desligado da interpretação religiosa do cosmos, uma vez que o poder da Igreja romana estava em declínio.
06 - Apesar de não terem alcançado seu objetivo - reconquistar a Terra Santa -, as Cruzadas provocaram amplas repercussões, porque:
a) favoreceram a formação de vários reinos cristãos no Oriente, o que permitiu maior estabilidade política na região.
b) consolidaram o feudalismo, em virtude da unificação dos vários reinos em torno de um objetivo comum.
c) facilitaram a superação das rivalidades nacionais graças à influência que a Igreja então exercia.
d) uniram os esforços do mundo cristão europeu para eliminar o domínio árabe na Península Ibérica.
e) estimularam as relações comerciais do Oriente com o Ocidente, graças à abertura do Mediterrâneo aos europeus.

07 - "A fim de que meus escritos não pereçam juntamente com o autor, e este trabalho não seja destruído... ... deixo meu pergaminho para ser continuado, caso algum dos membros da raça de Adão possa sobreviver à morte e queira continuar o trabalho por mim iniciado."
O texto foi escrito por um monge irlandês do século XIV e desperta dúvidas num homem culto da época sobre a possibilidade de alguém sobreviver, certamente devido a:
a) gripe espanhola
b) peste negra
c) descobrimentos marítimos
d) guerra luso-espanhola

08 - "O dinheiro, quando deve ser devolvido dentro de um prazo, proporciona nesse período um produto considerável e por vezes, priva a quem empresta, de tudo aquilo que traz a quem o toma emprestado."
O texto, escrito no início da Idade Moderna
A – defende a usura.
B – condena a usura.
C – condena o lucro.
D – faz parte da ética católica.

09 - "Não há um membro nem uma forma,
Que não cheire a putrefação.
Antes que a alma se liberte,
O coração que quer rebentar no peito
Ergue-se e dilata o peito
Que quase fica junto da espinha dorsal.
- A face é descorada e pálida.
E os olhos cerrados, na cabeça.
A fala perdeu-se,
Porque a língua está colada ao céu do boca.
O pulso bate e ele anseia.
(...)
Os ossos separam-se por todas as ligações
Não há um só tendão que não se estique e estale."
(Chastellain. LES PAS DE LA MORT. França, século XIV)
O poema anterior sinaliza a preocupação com a morte que se fez presente na mentalidade européia do século XIV. Para compreendermos o alcance dessa funesta inspiração, é preciso associar esse fenômeno ao fato de que
a) as primeiras navegações oceânicas, promovidas pelos europeus, vitimavam quantidades cada vez maiores de aventureiros.
b) a morte era apenas uma metáfora para representar a transição pela qual passava a sociedade e cuja ênfase estava na produção agrícola, daí a comparação com a fruta que apodrece para deitar sua semente na terra e novamente brotar com vida nova.
c) o movimento de investigação científica, que teria maior conseqüência durante o Renascimento, dava seus primeiros passos na direção dos estudos da anatomia humana.
d) a mentalidade religiosa, que concebia a vida apenas como provação em busca da salvação eterna, encontrava terreno fértil numa sociedade que era assolada por epidemias e guerras.

10 - Contrariando a idéia de que o período medieval foi uma época de obscurantismo, houve então rica produção cultural, pela qual se pode conhecer os valores do homem medieval, que colocava Deus como centro de todas as coisas.
A partir do texto acima e tendo em vista outros conhecimentos sobre o assunto, é correto afirmar que:

A – o Renascimento contribuiu para a idéia de que a Idade Média foi um período de retrocesso.
B – as Universidades surgiram na fase da Alta Idade Média, o que confirma as informações do texto acima.
C – o fanatismo religioso não criou barreiras para a expansão das idéias renascentistas.
D – na esfera cultural, a Igreja Romana não instituiu impedimentos para o desenvolvimento do humanismo.