A ascensão dos Bourbons ao trono espanhol, após a morte de Carlos II de Habsburgo, trouxe modificações profundas
nas relações coloniais. Lembremos, de inicio, que a guerra de sucessão espanhola (1700-1713) não se reduziu ao
plano interno, sendo, antes de tudo, uma guerra entre França e Inglaterra pela hegemonia na Europa. A entrada dos
Bourbons, e a aproximação com a França, levou a Espanha a uma série de concessões à Inglaterra. Pelo Tratado de
Utrecht (1713), a Espanha cedeu aos ingleses o direito de enviar uma determinada quantidade de mercadorias,
anualmente, aos portos coloniais, além do cobiçado direito de asiento (monopólio da venda de licenças para o
tráfico de escravos africanos nas colônias).
Apesar de tudo, e sob os influxos do pensamento ilustrado do século XVIII, os Bourbons trataram de assumir uma
política de recuperação nacional, visando, em primei¬ro lugar, à modernização econômica do país e, em segundo
lugar. à restauração dos vínculos monopolistas com a América. Contando com uma relativa superação da conjuntura
depressiva (aumento da população, da produção agrícola, etc), os Bourbons procuraram abolir as aduanas internas e
estimular a manufatura nacional, a fim de livrar o país da dependência externa. Quanto às colônias, fizeram amplas
reformas administrativas e comerciais, culminando com a política “recolonizadora” de Carlos III (1759- 1788).
Entre outras medidas, foram criadas companhias de comércio para monopolizarem certos produtos coloniais —Barcelona,
Zaragoza e Guipuzcoa —, e suprimiu-se o sistema de “exclusivo” montado pelo Habsburgo: o regime de porto único
extinguiu-se em 1778, sendo autorizados 13 portos espanhóis para o comércio colonial, e o regime de frotas e
galeões terminou abolido em 1798.
Ao contrário do que supõem alguns autores, o período bourbônico não significou a instauração do “livre comércio”
com a América, mas tão-somente uma ampliação do “exclusivo”, e sua remodelação institucional, visando justamente ao
reforço dos vínculos coloniais. Medidas “modernizantes” no plano interno e uma política “recolonizadora” nos
negócios americanos, eis o sentido profundo das reformas bourbônicas do século XVIII.
Deste modo, muitos dos circuitos intercoloniais pro¬movidos no século XVII e inícios de XVIII passaram ao controle
da metrópole, particularmente os que envolviam metais preciosos e produtos tropicais. A política de “diversificação
econômica” adotada pelos Bourbons — à qual muitos atribuem a difusão do cacau na Venezuela, do açúcar em Cuba, e do
tabaco em Nova Granada —, não passou, em muitos casos, de uma reorientação das exportações coloniais em favor da
metrópole.
Na conjuntura do século XVIII, sobretudo após 1750, a América caiu novamente sob o controle político e comercial da
Espanha, do qual só sairia com a crise da independência.
VAINFAS, Ronaldo. Economia e Sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro : Graal, 1984.
Transposição didática: Ivonete da Silva Souza
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
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2 comentários:
Professor, poderia resolver as questões discursivas de história da Fundação João Pinheiro deste ano? A prova foi feita dia 20 de dezembro e já está disponível no site.
Obrigada.
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