sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Reformas bourbônicas - Espanha, século XVIII

A ascensão dos Bourbons ao trono espanhol, após a morte de Carlos II de Habsburgo, trouxe modificações profundas

nas relações coloniais. Lembremos, de inicio, que a guerra de sucessão espanhola (1700-1713) não se reduziu ao

plano interno, sendo, antes de tudo, uma guerra entre França e Inglaterra pela hegemonia na Europa. A entrada dos

Bourbons, e a aproximação com a França, levou a Espanha a uma série de concessões à Inglaterra. Pelo Tratado de

Utrecht (1713), a Espanha cedeu aos ingleses o direito de enviar uma determinada quantidade de mercadorias,

anualmente, aos portos coloniais, além do cobiçado direito de asiento (monopólio da venda de licenças para o

tráfico de escravos africanos nas colônias).
Apesar de tudo, e sob os influxos do pensamento ilustrado do século XVIII, os Bourbons trataram de assumir uma

política de recuperação nacional, visando, em primei¬ro lugar, à modernização econômica do país e, em segundo

lugar. à restauração dos vínculos monopolistas com a América. Contando com uma relativa superação da conjuntura

depressiva (aumento da população, da produção agrícola, etc), os Bourbons procuraram abolir as aduanas internas e

estimular a manufatura nacional, a fim de livrar o país da dependência externa. Quanto às colônias, fizeram amplas

reformas administrativas e comerciais, culminando com a política “recolonizadora” de Carlos III (1759- 1788).
Entre outras medidas, foram criadas companhias de comércio para monopolizarem certos produtos coloniais —Barcelona,

Zaragoza e Guipuzcoa —, e suprimiu-se o sistema de “exclusivo” montado pelo Habsburgo: o regime de porto único

extinguiu-se em 1778, sendo autorizados 13 portos espanhóis para o comércio colonial, e o regime de frotas e

galeões terminou abolido em 1798.
Ao contrário do que supõem alguns autores, o período bourbônico não significou a instauração do “livre comércio”

com a América, mas tão-somente uma ampliação do “exclusivo”, e sua remodelação institucional, visando justamente ao

reforço dos vínculos coloniais. Medidas “modernizantes” no plano interno e uma política “recolonizadora” nos

negócios americanos, eis o sentido profundo das reformas bourbônicas do século XVIII.
Deste modo, muitos dos circuitos intercoloniais pro¬movidos no século XVII e inícios de XVIII passaram ao controle

da metrópole, particularmente os que envolviam metais preciosos e produtos tropicais. A política de “diversificação

econômica” adotada pelos Bourbons — à qual muitos atribuem a difusão do cacau na Venezuela, do açúcar em Cuba, e do

tabaco em Nova Granada —, não passou, em muitos casos, de uma reorientação das exportações coloniais em favor da

metrópole.
Na conjuntura do século XVIII, sobretudo após 1750, a América caiu novamente sob o controle político e comercial da

Espanha, do qual só sairia com a crise da independência.



VAINFAS, Ronaldo. Economia e Sociedade na América Espanhola. Rio de Janeiro : Graal, 1984.
Transposição didática: Ivonete da Silva Souza

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Professor, poderia resolver as questões discursivas de história da Fundação João Pinheiro deste ano? A prova foi feita dia 20 de dezembro e já está disponível no site.
Obrigada.