quarta-feira, 20 de maio de 2009

Invasão holandesa - documentos

Excertos de documentos relativos à Invasão Holandesa – 1630-1654.


Hábitos reinóis na Nova Lusitânia:

“mui provida das coisas do Reino pelos muitos navios que a ela vêm todos os anos, de modo que nas provisões, quem tiver com que as compre, não há diferença do Reino”, pois “continuamente se vende pão de trigo, azeite, vinho, etc. .” Serafim Leite (ed.), Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, 3 vols., Roma, 1956-1958, p.335. Apud Evaldo Cabral de Mello Olinda Restaurada: Guerra e Açúcar no Nordeste, 1630-1654. 2º edição. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998. p. 145.

“os primeiros dos nossos que penetraram na cidade encontraram as casas abertas e vazias, as mesas postas por toda a parte e bem providas com comidas e bebidas” Baers, apud Evaldo Cabral de Mello Olinda Restaurada: Guerra e Açúcar no Nordeste, 1630-1654. 2º edição. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998. p. 30.

“é difícil acreditar as riquezas e o butim que nossos homens encontraram (...) sendo tal a abundancia de tudo que eles não sabiam a que atirar-se” “Journal”, fl.10r. apud Evaldo Cabral de Mello Olinda Restaurada: Guerra e Açúcar no Nordeste, 1630-1654. 2º edição. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998. p. 46.

Invasão Holandesa vista como castigo divino:

“XIX. Se os crimes e peccados dos homens provocão alguma vez os castigos do ceo, podemos suppor que as calamidades que sobrevierão á capitania de Pernambuco mais são devidas aos conselhos da Providencia que ás astucias da política. Alimentadas dos deleites brotárão de sorte as demazias entre os moradores de Pernambuco, que suffocavão a razão, e desconhecião o pejo: não havia para cada qual mais lei que seu proprio gosto. A continuação sepultou as memorias da censura; e animada do lucro, da abundancia e da riqueza, desprezava a nota, correndo a malicia tão desenfreada pela satisfação dos apetites, que chegavão com as obras onde chegavão com os desejos. As lacivias, os faustos, os regalos, as vaidades, as usuras, os roubos, as emulações, as vinganças, os odios, as aleivozias, e as liberdades, de nenhum se estranhavão, porque era exercicio de todos os que podião. A vida que se sustenta do vicio sempre se conduz para a injuria, e nunca para a honra, sendo natural efeito das demazias afeminar os animos, desatender os castigos, e não imaginar nos futuros. Vio-se na desatenção com que todos vivião, que servindo de reclamo para a invasão, foi o total desvio para a defensa, sendo a mesma mão do peccado a que pegou do açoute para executar o castigo, permitindo Deos que com a mesma diligencia, com que se tractava da conservação, se exectuasse a ruina.
XX. Individualmente se sabião em Hollanda todas as disposições que levavão a villa d’Olinda á sua ultima perdição; não faltando mais para cair que eoncostar-lhe a mão ao peso que a fazia declinar (...).”
Frei Rafael de Jesus. O Castrioto Lusitano, ou, Historia da guerra entre o Brazil e a Hollanda, durante os annos de 1624 a 1654, terminada pela gloriosa restauração de Pernambuco e das capitanias confinates; Obra em que se descrevem os heróicos feitos do illustre João F. Nova edição segundo a de 1679, impressa em Lisboa Pariz: J. P. Aillaud, 1844, p.20//21.

“Ficaram os holandeses senhores da vila, e arrecife, e começaram a saquear tudo com grande desaforo, e cobiça. Este entrava por as casas, e saia carregado do melhor que nelas achava. Aquele quebrava com machado as portas das que estavam fechadas, as caixas, os escritórios, os contadores cheios de finas sedas, de ouro e de prata, e ricas jóias; outros entravam por as igrejas, depois de lhe roubarem os ricos e custosos ornamentos, e fazerem em tiras muitos deles, quebravam em pedaços as imagens de Cristo, e da Virgem Maria, e dos outros santos, e as pisavam com os pés com tanta coragem, e desaforo, como que se com isto lhe parecesse que extinguiam a fé católica romana. (...)Enfim a barafunda, e alarido era tanto, que com muita mosquetaria que disparavam, parecia o dia do juízo.”
Frei Manuel Calado. O Valeroso Lucideno; vol. I. Belo Horizonte:Itatiaia, 1987, p. 40.

Especificidades das táticas bélicas brasílicas e européias:
“no qual cada combatente atendia em primeiro lugar à sua própria pessoa e à de seu contrário. A este procurava-se obstar, por meio de negaças e de saltos desencontrados que acertassem no alvo, e mesmo quando os adversários eram muitos (...) o constante movimento dificultava-lhes a pontaria. Os descobridores europeus geralmente compreenderam logo a significação desses saltos singulares e, por vezes, queixam-se de que os impediam de apontar e de acertar.”
Georg Friederici, “A eficácia do arco dos índios”, RIAP, 12 (1905-1906), p. 489.

“as guerras destas nossas partes da Europa são em campinas mui rasas e descobertas, e as do Brasil e toda a América são por entre matos, donde se não guarda ordem nenhuma das que cá se usam; é a força que donde varia o objeto, varia a ciência. E a experiência nos mostrou que os mais práticos que desta parte foram, se perderam, por quererem seguir o estilo de cá, desprezando o parecer dos práticos daquelas partes.”
“Cristóvão Álvares, engenheiro em Pernambuco, 1608-1663”, Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 15 (1961), p.54.

Situação de Recife durante a guerra de expulsão:
“os gatos e cachorros, dos quais tínhamos então abundancia, eram considerados finos petiscos. Viam-se negros desenterrando ossos de cavalo, já meio podres, para devora-los com incrível avidez. Nem era menos insuportável a falta de água potável, devido ao rigor do verão e ao uso constante de carnes salgadas; todos os poços que se abriam minavam água salobra. Os miseráveis escravos que só conseguiam a pior parte das sobres tinham o olhar tão esgazeado e o queixo tão trêmulo, que causavam pavor mesmo aos mais destemidos” .Johan Nieuhof. Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil. São Paulo: Eduspo. 1981. p.290.

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